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O que é a técnica das dez cordas na viola caipira? Parte 1

vinimunizviola

3 de junho, 2023

O que é a técnica das dez cordas na viola caipira

É fato que a viola caipira, a nossa viola brasileira, está em pleno processo de escolarização, desenvolvimento e expansão técnica. Da mesma forma que outros instrumentos passaram por processos semelhantes, quando vários autores foram criando métodos, estudos e recursos que visavam dar mais suporte aos instrumentistas. Agora é a vez da viola.

E entre os novos estudos há um que se destaca, a técnica das dez cordas. Você já conhece? Sabe do que se trata? Este é o primeiro de uma série de três videos no qual vou te mostrar em que consiste essa técnica, como surgiu, como é a notação, quais as vantagens, quais os desafios e como praticá-la.

A técnica das dez cordas surge a partir de uma iniciativa do mestre Ivan Vilela

Assista a explicação sobre a técnica das dez cordas (parte 1)

Em um bate papo que tivemos, ele me contou que essa ideia foi surgindo como consequência do seu próprio pensamento composicional. Uma das marcas do trabalho do Ivan é fazer música mais polifônica. O que significa, que ao invés de ir pensando em blocos de acordes, ele procura criar várias linhas melódicas, tocadas simultaneamente. Duas, três ou quatro melodias, que chamamos de vozes, é algo bem comum na música dele.

E para separar essas melodias, é importante organizá-las por alturas, ou seja, uma melodia mais grave, o baixo, outra no meio e outra mais aguda por exemplo.

Mas aí é o problema da viola. Por causa das cordas duplas da viola, quando tocamos um dos pares oitavados, por exemplo, soam duas notas, uma aguda e uma grave. Mas se uma das melodias já é aguda, no primeiro ou segundo par por exemplo, ao tocar outra melodia nos pares graves vai soar por tabela a notinha aguda que pode estar na mesma região da melodia nos agudos.

Com o toque normal da viola sensação sonora é de que tudo fica um pouco embolado.
Melodias que deveriam ser graves, soam na mesma região das agudas e assim a melodia principal não consegue se destacar no meio disso tudo.
No exemplo tocado no video, temos duas melodias, uma no grave (o baixo), outra no agudo (melodia principal). O problema é que a melodia principal está na mesma região das cordas agudas dos pares graves. Quando tocamos a melodia do baixo com as duas cordas do par, a melodia principal perde um pouco do destaque. Inclusive há um momento em que o baixo fica mais agudo que a melodia principal:

Pois bem, a solução que o Ivan Vilela foi encontrando é tocar as cordas individualmente na mão direita, assim as melodias seriam respeitadas do ponto de vista das alturas e ficariam melhor organizadas dentro do espectro sonoro, do grave para o agudo.

E como ele fez isso?

O ponto chave é entender o conceito de “ponto de articulação”. O movimento de um dedo, ao tocar um par de cordas só é possível pois o dedo está fixo num ponto da mão. Esse é o ponto de articulação.

Agora, no caso da viola, o que se observa é que quanto mais baixo ele estiver em relação ao par que será tocado, mais grave é o som, pois o ataque do dedo atinge mais a corda grave do par em questão e menos a corda aguda.
Se for o contrário, ou seja, se o ponto de articulação estiver mais acima do par que será tocado, a tendência é o som resultante ser mais da corda aguda.

Partindo dessa ideia, ou seja, de posicionar o ponto de articulação mais acima ou mais abaixo, e com um pouco de ajuste no ataque dos dedos é possível tocar somente a corda grave ou a corda aguda.

Com isso, nos pares oitavados ganhamos mais possibilidades sonoras. Basicamente, essa técnica, somada às formas comuns de toque, temos que uma nota tocada nesses pares pode soar quatro formas diferentes.

Podemos aplicar essa técnica a todos os dedos da mão direita: polegar, indicador, médio e anular, porém somente com o polegar conseguimos tocar as duas opções: somente a corda grave ou somente a corda aguda.
Com os demais dedos há apenas a opção de tocar a corda grave isoladamente.

Em um arpejo, por exemplo, podemos ampliar a sensação do espectro sonoro usando essa técnica, pois os arpejos passam a contemplar mais oitavas. Um arpejo simples como esse pode ganhar uma sonoridade muito mais rica, sem mudar de posição

Sem mover a mão de lugar conseguimos ter muito mais notas diferentes. No exemplo tocado no video, prendendo 3 notas no braço, podemos ter cinco notas diferentes, além de muito mais definição sonora de cada uma.

Outra vantagem é que podemos ganhar mais fluidez na mão esquerda, evitando saltos desnecessários, pois as notas que precisamos para uma melodia estarão muito mais próximas. Veja o exemplo. Como tocar essa melodia?

Da forma convencional, já teríamos um problema, pois as duas primeiras notas, o Ré, soariam parecidos e não separados por uma oitava como tem que ser, pois na corda grave soa também o mesmo ré da corda aguda.
Na sequência, para tocar o Ré  mais agudo teríamos que fazer um salto até a casa 12. E no resultado final, o dedilhado de mão direita fica bem confuso.

Com a técnica das dez cordas não. Ganhamos em fluidez, precisão e definição sonora.

Qual o primeiro passo para começar a praticar essa técnica?
O primeiro é desenvolver uma consciência desses novos movimentos. O primeiro deles é esse pequeno giro de pulso que permite posicionar o ponto de articulação conforme a corda que se queira tocar

Para baixo para tocar as cordas graves. Para cima para tocar as cordas agudas.

O segundo passo é começar praticando essa nova sensação de movimento, que em geral é mais curta. Com isso, uma nova memória muscular vai sendo construída. Ao fazer isso, pode ser necessário um ajuste na forma de lixar as unhas. Em geral, costuma funcionar melhor com unhas mais curtas. Mas cabe a cada um experimentar. O mais importante nesse início é ir percebendo o efeito que causa a mudança de posição do ponto de articulação e praticar essa pequeno gesto de antebraço e punho.

O livro de partituras de Bach para viola caipira que escrevi utiliza essa técnica.

O livro acompanha uma seção com todos os detalhes da notação e escrita de partitura para viola.
O repertório de Bach é excelente para praticar essa técnica, pois as polifonias de Bach, assim como as do Ivan Vilela, precisam estar bem organizadas do ponto de vista das alturas para serem bem compreendidas pelo ouvinte. Fora que as obras de Bach tocadas na viola são um grande material para o desenvolvimento técnico de uma forma geral.

Além disso, os vídeos de técnica exclusivos que acompanham o livro são um ótimo material para dar os primeiros passos nessa técnica.



Nos próximos vídeos desta série abordaremos como é a notação dessa técnica e como aplicá-la em diferentes repertórios.

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